2.1.06

O complexo de esquerda

Assino estas palavras

Por concordar com o autor, deixo aqui a sua mensagem:

«Permitam um desabafo gostava de ser de esquerda.Quando ouço os líderes falar sobre os seus objectivos, sinto uma identificação sincera e atenta. A sua preocupação declarada são os mais pobres, os que menos têm e menos podem. Que propósito político é mais digno e elevado? Reformados, imigrantes, operários, trabalhadores em geral são a sua luta, de uma forma que nenhum outro partido iguala.Então não tenho dúvidas sou de esquerda. Depois passam aos meios para esse objectivo, e aí começam as divergências. Divergências que são entre esses meios e os interesses que dizem defender.Existem cinco grandes contradições na esquerda.Primeiro, uma questão filosófica. Um pobre é sempre pragmático. A necessidade aguça o engenho e os carenciados são astutos gestores dos magros haveres, com uma lucidez e imaginação que ultrapassa a dos grandes empresários. Mas não existem forças políticas mais dogmáticas que as de esquerda. Presas a conceitos abstractos e modelos arcaicos, ligam à retórica ideológica e não à eficácia concreta.O que interessa são "direitos adquiridos", "conquistas inalienáveis", mesmo que isso atrase o de-senvolvimento e aumente a pobreza e o desemprego. Segundo, uma questão económica. Na análise económica os disparates são esmagadores.Dominados por teorias obsoletas e desqualificadas, insistem em chavões populistas, em geral desmiolados, sem qualquer eficácia na defesa dos reais interesses dos mais pobres. É incrível como o modelo intelectual da esquerda continua a responder à situação industrial de Oitocentos.Os exemplos aqui são miríade.A imperiosa luta contra o capital e a visão conflituante da empresa são impostas independentemente dos reais interesses dos trabalhadores. Essa fúria espanta o capital nacional e externo e contribui poderosamente para a paralisia e atraso.A defesa da intervenção do Estado, toda paga com impostos dos trabalhadores, tem criado e mantido enormes desperdícios e abusos. A ignorância das radicais mudanças recentes, por exemplo na natureza do capital, leva-os a atacar a poupança dos pobres, que compõem os famigerados fundos mobiliários que popularizaram o mercado financeiro.Estas não são questões de opinião. São simples erros técnicos.Terceiro, uma questão mundial. A esquerda nasceu aberta e internacionalista. Enfrentando a tacanha cobiça nacional das potências, afirmava uma visão transversal e solidária da humanidade. Depois deixou que esse internacionalismo fosse capturado pelo interesse nacional de potências particulares, URSS ou China, pervertendo a generosa inspiração inicial.Agora, paradoxalmente, virou proteccionista numa luta míope e retrógrada contra a globalização, mais uma vez sem atenção aos reais interesses dos menos favorecidos. A abertura dos têxteis chineses, por exemplo, beneficiaria muito todos os pobres nacionais, que se vestiriam muito mais barato. Porquê insistir na manutenção de indústrias obsoletas e dispendiosas?Em quarto lugar aparece a recente opção da esquerda na luta contra a família. Depois do seu falhanço económico, que fez esquecer velhos mitos da "sociedade sem classes" e "ditadura do proletariado", passou a promover o aborto, eutanásia, uniões de facto, prostituição, casamento e adopção por homossexuais, etc. Estas não são causas dos pobres, mas bandeiras de burgueses debochados em juventude retardada. Pelo contrário, os mais desfavorecidos precisam de uma política clara de apoio à família, a mais antiga e segura forma de segurança social. Mas esta é a única medida omitida no palavroso programa do actual Governo socialista. Finalmente, surge a velha opção da esquerda contra a religião.Também aqui se trata, não de interesse dos pobres, mas de manias de intelectual pedante. Por causa desta irritação espúria contra a fé, a esquerda tem perseguido e até chacinado milhões de pobres e destruído a base cultural e social da sua vida. Por todas estas razões mantenho a discordância. Mas sinto que não sou de esquerda por razões de esquerda.»
João César das Neves

2 comentários:

Anónimo disse...

Já viram! Agora o Mário Soares acusa tudo e todos. Sinal que as coisas não lhe estão a correr de feição.
Mas quem lhe mandou concorrer a um lugar que não é para velhos?
Bem feita!...

PDivulg disse...

Pois... Teoricamente todos defendem os pobres mas na hora da verdade o "cheiro do dinheiro" encobarda qualquer político!...
retenho duas ideias fortes:
-As causas de uma juventude retardada.....
-Apoio à família a mais antiga e segura forma de segurança social. Quanto a este ponto não duvido que nada tem sido feito nesse sentido, inventam-se umas "pseudo" medidas de apoio mas na prática tudo na mesma. Depois, claro vive-se de e para a "carteira" os filhos desaparecem da lista de prioridades...