28.1.06

Alma Gémea


Determinada rapariga sonhava com o seu príncipe encantado. Mas os anos iam passando e não mais ele vinha procurá-la.
Resolveu então partir a ver se o encontrava.
Despediu-se da família e amigos e foi em sua demanda.
Muitos anos depois, regressou sozinha e desanimada. Todos lhe perguntavam:
– Encontraste aquele que procuravas ?
Sim, encontrei. Encontrei aquele com quem sonhava. Era na verdade uma perfeição de sonho, era o homem perfeito...
– Bem, filha, onde está ele?
– Ah, mãe, que tristeza ! Ele também andava à procura da mulher perfeita !!!

25.1.06

Um direito humano

O direito ao crédito

"Colocar o "direito ao crédito" na carta fundamental dos direitos do Homem é o próximo desafio de Muhamad Yunus, o criador do minicrédito.
Impossível? Talvez não. Para quem acredita há 30 anos que "é possível transformar utopias em realidade", nada é impossível.
Afinal quando, em 1997, o "pai" do microcrédito conseguiu impor nos objectivos do milénio a meta de passar de 7,5 milhões de beneficiários do microcrédito para os 100 milhões até 2005, muito poucos, para além dele próprio, acreditavam.
"Oito anos passados não só atingimos essa meta como julgo que a teremos mesmo ultrapassado, com um terço a sair da pobreza", disse, pleno de satisfação, o fundador bengali do Grameen Bank, falando para uma plateia de responsáveis governamentais e instituições de solidariedade nacionais, que despertam para a potencialidade do microcrédito.
Porquê lutar pelo direito ao crédito? "O meu argumento é o seguinte: não adianta consagrar o direito à saúde, ao trabalho, à educação, tudo óptimas ideias, se todos sabemos que os Estados não têm dinheiro suficiente para fazer cumprir todos esses direitos. O que é importante, o direito fundamental, deve ser capacitar os indivíduos com os meios que lhes permitam ser autónomos, criando o seu próprio emprego".
E para quem não perceba, Yunus relembra que todos os homens nascem com a mesmas ferramentas, a mesma criatividade.
"Os pobres são apenas pessoas a quem tiraram o direito a ter espaço para se desenvolver. Tal como as árvores se forem colocadas em vasos pequenos sem espaço para crescer nunca ultrapassam um determinado tamanho".
O microcrédito, diz, é o espaço para crescerem.
Dos jornais

17.1.06

Mas as crianças, Senhor...

A matança dos inocentes continua

Vítimas de uma enorme variedade de tragédias e abusos, 860 milhões de crianças no mundo vivem em um permanente pesadelo, enquanto que seu futuro é uma incógnita.

Quando se fala dos direitos das crianças, fala-se de um problema que afecta 2,2 bilhões de seres humanos. Vítimas da fome, da Sida, do abandono, da ignorância e da solidão, são o escândalo de nosso tempo. Para 860 milhões de crianças no mundo, o futuro é uma incógnita, o presente um pesadelo; foi-lhes «roubada a infância.
A notícia que tem em conta dados de organismos internacionais, revela que o número de crianças-trabalhadoras chega a 211 milhões entre 5 e 14 anos de idade; delas, 120 milhões trabalham a «tempo completo». A maior parte --171 milhões-- em condições arriscadas. A Ásia é o continente mais afectado por este fenómeno.
O documento denuncia também que na raiz de muitas formas de exploração está o facto de que os países mais pobres entre aqueles em vias de desenvolvimento, mais de 50 milhões de crianças nem sequer são registradas quando nascem.

8.1.06

Casamento

Por concordar com o autor e o achar com interesse, deixo aqui este texto para quantos o não puderam ler. E, se quiser, deixe a sua opinião

«É falso que o casamento heterossexual seja ilegitimamente discriminatório. Em democracia, as minorias devem ser respeitadas, mas não podem decidir em nome da maioria.»
O Expresso da semana passada reabriu o debate sobre o casamento entre homossexuais. Do ponto de vista da política nacional e das eleições presidenciais, não é seguramente uma questão prioritária - como, aliás, apenas um dos candidatos sublinhou. Mas, no plano intelectual e mediático, é uma questão que vem ganhando relevância. É neste plano que me proponho discuti-la. Por limitações de espaço, deixo por agora de lado as questões morais.
O principal argumento que tem sido apresentado para justificar o casamento entre homossexuais é o da não discriminação. A lei deve tratar os indivíduos como iguais, independentemente da sua raça, sexo, opiniões políticas ou credos religiosos. Logo, se a lei reconhece o casamento heterossexual, terá de reconhecer igualmente o casamento homossexual.
Este argumento contém, pelo menos, duas dificuldades.
Declive escorregadio A primeira é a do proverbial «slippery slope» (declive escorregadio). Se aceitássemos o referido argumento como conclusivo - e não apenas como presuntivo - ficaria aberto o caminho para termos de aceitar todas as bizarrias como «casamentos», desde que isso fosse reclamado consensualmente pelos interessados: os «casamentos» poligâmicos, os «casamentos» poliândricos, os «casamentos» incestuosos, etc. Por outras palavras, o contrato específico a que chamamos casamento perderia toda a sua especificidade e passaria a designar qualquer coisa que um grupo minoritário, consensualmente entre si, reclamasse como «casamento».
A segunda dificuldade - que, em rigor, explica a dificuldade anterior - consiste em observar que o argumento da não discriminação está formulado de forma incompleta. Quando se diz, por exemplo, que um empregador não pode discriminar candidatos a uma função com base no sexo, o que se supõe é que, para essa função, o sexo do candidato não é relevante. Mas, se o sexo for considerado relevante para a função em causa, o empregador pode e deve escolher homens em vez de mulheres, ou mulheres em vez de homens. Sobretudo, pode fazê-lo com toda a legitimidade, sem estar a promover qualquer tipo de discriminação ilegítima.
Discriminações legítimas É por isso que, por exemplo, nenhum homem protestará em tribunal por não ter sido contratado para a função de modelo de roupa feminina. Para essa função, o sexo é considerado relevante. É também por isso que nenhum adolescente protestará em tribunal por não lhe ser concedida a carta de condução - ainda que possa demonstrar saber conduzir. Para essa função, a idade é considerada relevante.
Isto significa que, no caso do casamento - tal como no dos modelos, ou das cartas de condução -, não basta falar em discriminação. É preciso saber se a variável discriminatória (o sexo ou a idade, nos exemplos referidos) é ou não relevante para a função em apreço. No caso do casamento, é preciso saber se o sexo dos parceiros é ou não relevante para a definição de casamento perante a lei.
Ouvir a maioria Pode agora ser ripostado que o casamento é uma convenção social e que, por isso, saber se o sexo dos parceiros é ou não relevante é uma matéria de opinião e, por isso, mutável. Será assim, até certo ponto. (Da mesma forma que, até certo ponto, são convenções, e, portanto, até certo ponto, matérias de opinião, os artefactos que constituem uma civilização. Isto, por outro lado, já sugere que as convenções - designadamente as convenções civilizacionais -, pelo facto de serem convenções, não são necessariamente arbitrárias ou equivalentes. Mas é um facto que podem ser alteradas. Como também é um facto que algumas dessas alterações conduziram no passado ao declínio de civilizações).
Se for assim, porém, isso significa que é falso que o casamento heterossexual seja, só por si, ilegitimamente discriminatório contra os homossexuais. Em democracia, resta saber se a maioria considera ou não que o sexo dos parceiros é relevante para a definição do casamento perante a lei. Em democracia, as minorias devem ser respeitadas, mas não podem decidir em nome da maioria.
João Carlos Espada - «Expresso» desta semana

2.1.06

O complexo de esquerda

Assino estas palavras

Por concordar com o autor, deixo aqui a sua mensagem:

«Permitam um desabafo gostava de ser de esquerda.Quando ouço os líderes falar sobre os seus objectivos, sinto uma identificação sincera e atenta. A sua preocupação declarada são os mais pobres, os que menos têm e menos podem. Que propósito político é mais digno e elevado? Reformados, imigrantes, operários, trabalhadores em geral são a sua luta, de uma forma que nenhum outro partido iguala.Então não tenho dúvidas sou de esquerda. Depois passam aos meios para esse objectivo, e aí começam as divergências. Divergências que são entre esses meios e os interesses que dizem defender.Existem cinco grandes contradições na esquerda.Primeiro, uma questão filosófica. Um pobre é sempre pragmático. A necessidade aguça o engenho e os carenciados são astutos gestores dos magros haveres, com uma lucidez e imaginação que ultrapassa a dos grandes empresários. Mas não existem forças políticas mais dogmáticas que as de esquerda. Presas a conceitos abstractos e modelos arcaicos, ligam à retórica ideológica e não à eficácia concreta.O que interessa são "direitos adquiridos", "conquistas inalienáveis", mesmo que isso atrase o de-senvolvimento e aumente a pobreza e o desemprego. Segundo, uma questão económica. Na análise económica os disparates são esmagadores.Dominados por teorias obsoletas e desqualificadas, insistem em chavões populistas, em geral desmiolados, sem qualquer eficácia na defesa dos reais interesses dos mais pobres. É incrível como o modelo intelectual da esquerda continua a responder à situação industrial de Oitocentos.Os exemplos aqui são miríade.A imperiosa luta contra o capital e a visão conflituante da empresa são impostas independentemente dos reais interesses dos trabalhadores. Essa fúria espanta o capital nacional e externo e contribui poderosamente para a paralisia e atraso.A defesa da intervenção do Estado, toda paga com impostos dos trabalhadores, tem criado e mantido enormes desperdícios e abusos. A ignorância das radicais mudanças recentes, por exemplo na natureza do capital, leva-os a atacar a poupança dos pobres, que compõem os famigerados fundos mobiliários que popularizaram o mercado financeiro.Estas não são questões de opinião. São simples erros técnicos.Terceiro, uma questão mundial. A esquerda nasceu aberta e internacionalista. Enfrentando a tacanha cobiça nacional das potências, afirmava uma visão transversal e solidária da humanidade. Depois deixou que esse internacionalismo fosse capturado pelo interesse nacional de potências particulares, URSS ou China, pervertendo a generosa inspiração inicial.Agora, paradoxalmente, virou proteccionista numa luta míope e retrógrada contra a globalização, mais uma vez sem atenção aos reais interesses dos menos favorecidos. A abertura dos têxteis chineses, por exemplo, beneficiaria muito todos os pobres nacionais, que se vestiriam muito mais barato. Porquê insistir na manutenção de indústrias obsoletas e dispendiosas?Em quarto lugar aparece a recente opção da esquerda na luta contra a família. Depois do seu falhanço económico, que fez esquecer velhos mitos da "sociedade sem classes" e "ditadura do proletariado", passou a promover o aborto, eutanásia, uniões de facto, prostituição, casamento e adopção por homossexuais, etc. Estas não são causas dos pobres, mas bandeiras de burgueses debochados em juventude retardada. Pelo contrário, os mais desfavorecidos precisam de uma política clara de apoio à família, a mais antiga e segura forma de segurança social. Mas esta é a única medida omitida no palavroso programa do actual Governo socialista. Finalmente, surge a velha opção da esquerda contra a religião.Também aqui se trata, não de interesse dos pobres, mas de manias de intelectual pedante. Por causa desta irritação espúria contra a fé, a esquerda tem perseguido e até chacinado milhões de pobres e destruído a base cultural e social da sua vida. Por todas estas razões mantenho a discordância. Mas sinto que não sou de esquerda por razões de esquerda.»
João César das Neves