5.2.06

Casamento homossexual

Sim ou não?


Com o comentário de Godmundo a um post de Jardim de Luz aprendi alguma coisa e por isso o transcrevo aqui quase na íntegra. Espero que o autor não me leve a mal.

«E a pergunta veio por causa do comentário da Caríssimos: é que o casamento civil, sem que eu consiga perceber como, foi promovido pelos próprios católicos a uma espécie de duplo do casamento/matrimónio. Isto é, na minha opinião, uma armadilha muito séria. Ele nasceu quando começou a haver, na "classe alta" do século XIX, situações como a do Principe Carlos e da Camilla. As "conveniências sociais" exigiam um casamento, e, olha! um deles tinha contraído - e descontraído - um matrimónio. Mais nada do que isto.Coincidência engraçada: estou a chegar da Feira da Ladra, onde comprei um livrinho do Padre Mário de Oliveira (então o "padre Mário de Macieira da Lixa", escrito e publicado ainda antes do 25 de Abril. Parei a tomar um café e abri-o. E encontrei uma homilia sobre o "dar-te-ei isto tudo se prostrado me adorares". Dizia ele: cuidado com o Poder, que ainda usa esta linguagem. O que o Poder faz aos cristãos é dizer "leva-me a sério, confia em mim. Diz que as minhas coisas são iguais às tuas coisas. Em troca eu até obrigo toda a gente a respeitar-te. Tudo isto me pertence, vês? Fica tão mais fácil evangelizar". E portanto queria sintetizar o que acho sobre isto tudo:(a) não faço a mais pequena ideia sobre o que pensa deus da homosexualidade. tenho imensa pena. (b) sei o que diz a hierarquia da igreja, ao mais alto nível, e procuro entender a teologia do matrimónio e do amor, sem conseguir (mas deve ser defeito meu). (c) acho o "casamento civil" uma vigarice institucionalizada. Acho que só devia haver uma regulação de alguns efeitos legais de "uniões" (muito poucos) e uma grande protecção da situação das crianças. Mas a "união" em si deve ser feita - e desfeita - pelo simples acto de fazer a mala. Acho mais que há coisas que fazem doer de ridiculas que são (o que é isso de estar no Bilhete de Identidade "estado civil, divorciado"? que insolência é esta?!). Acho que evidentemente a Banca adora a ideia de quem durma comigo fique a responder pelas minhas dividas. E acho outras coisas do mesmo género.(d) acho em particular o argumento último da "procriação" como "fim da familia a ser protegido pelo Estado" um argumento perigosissimo, proque é ainda mais fascista do que os outros. Quero do Estado absoluta distância disso (quer na versão "crescei e multiplicai-vos" quer na hedionda versão chinesa do "filho único"). Aliás, quero absoluta distância do Estado em tudo. (e) os meus amigos homosexuais e bisexuais têm-me ajudado, ao longo da vida, a aprender a reconhecer os terríveis sintomas da insegurança de identidade masculina (recomendo a todos que vejam o assombroso filme "Beleza Americana"). Não gosto muito dos homens (masculino) em geral. São quase sempre demasiado brutos ou demasiado frágeis. O "medo", a "repugnância" e a grosseria para com a homosexualidade escondem, no sótão ou na cave, coisas que só deus sabe. As mulheres não são anjos, mas basta ver a diferença no modo como se tocam e partilham o que são. No dia em que for vulgar ver dois homens ir juntos à casa de banho no meio de uma festa o mundo será um lugar bem mais tranquilo. (f) gostei muito do que disse o zebeirão, so que no plano civil, ou leigo, ou mundano, ou profano, não basta. Porque há policias e prisões e juizes e coisas dessas. Preciso de regras justas, e não apenas de "compreeensão e amor". Embora estas sejam indispensáveis, claro. (g) uf, estou cansado. Desculpa lá se me excedi. Aliás, desculpem todos. No fundo, estas discussões mudam-nos mais a todos do que qualquer mudança de lei (embora eu não possa dizer isso com tranquilidade à Lena e à Teresa). Se a lei mudar e nós ficarmos como estamos, será terrível também. E não sei como havemos de ser depois de mudados. Sei é que isto em que estamos não pode continuar.»

4 comentários:

Em contra-corrente disse...

Povos antigos já tinham regulado o casamento para lhe dar algumas garantias e proteger as crianças.
Sobretudo os romanos tinham tudo isso bem regulamentado, com o paterfamilias a supervisionar essa instituição. Bem ou mal era já assim.
Daí que não concorde com o Godmundo que parece pôr em causa o valor dessa instituição civil.
Admitir casamentos homossexuais é que é novidade.
E não sei se se ganha ou perde com isso.

Goldmundo disse...

Olá :)

Hum... só fico a pensar se isto faz sentido retirado da discussão anterior... a ver vamos.

(e ... erm.. Goldmundo, e não Godmundo :P )

Um abraço. E obrigado pela partilha.

Goldmundo disse...

em contra-corrente: infelizmente os povos antigos não regularam o casamento para "proteger as crianças". Aliás, os pais tinham o direito de vida e de morte sobre toda a "casa", filhos, escravos e galinhas incluídos.

Eu não sou contra essa protecção. O que não entendo é porque é que será preciso "casar" para a ter. Além disso, na lei actual, o casamento desprotege claramente. Por exemplo, em questões fiscais. Protege a "segurança", no sentido de "se ela quiser ir embora só com um tribunal". Mas isso parece-me aberrante.

Abraço.

Em contra-corrente disse...

Obrigada, Godmundo.
Não tinha pensado nisso. És capaz de teres razão.